Autor: José Luís Ramos Pinheiro
O Pilar Social: Todos somos poucos
Nas sociedades modernas a
sustentabilidade social é um fator crítico. E é um fator crítico não só para o
desenvolvimento, mas até para a mera sobrevivência.
Sem a consideração do pilar social as organizações – instituições, empresas, o próprio Estado – arriscam desaparecer, perder sentido ou entrar em convulsão.
Nem sempre o primado social esteve no centro da análise ou da atuação dos diferentes stakeholders.
Alguns movimentos políticos e sociais surpreenderam pelas circunstâncias e momento em que ocorreram, mas, bem lá no fundo, aquilo que sucedeu ficou a dever-se à falência do pilar social, em certas épocas em determinadas sociedades.
Winston Churchill foi uma figura crucial para a vitória dos aliados na II guerra mundial. A sua visão e coragem determinaram o rumo da história. Porém, nas primeiras eleições após a guerra, Churchill saiu derrotado. Os ingleses não foram ingratos nem desconsideraram a liderança de Winston em tempos de guerra. Sucede que estavam socialmente descontentes. Ambicionavam mais emprego, maior proteção social, melhores condições de saúde e acesso a habitação digna. E penalizaram quem os guiara até à vitória.
De modo semelhante, os alemães foram sujeitos a uma depressão social intensa após a I guerra mundial. As circunstâncias particulares da rendição na I guerra, combinadas com a crise económica internacional e com uma inflação avassaladora, criaram uma situação insustentável.
E essa falência social também
contribuiu para o caldo cultural que permitiu a ascensão dos horrores do
nazismo.
Sem o pilar social, a sociedade portuguesa teria sofrido ainda mais nas diferentes crises que experimentou nos últimos cem anos ou nos últimos dez, se quisermos olhar para a conjuntura do país a partir de 2011.
Sem o pilar social, a crise que atualmente vivemos, potenciada por fatores internos, mas também externos - com destaque para os regressos da inflação e da guerra ao teatro europeu - assumiria contornos mais drásticos, talvez dramáticos.
Sem o pilar social, a crise que atualmente vivemos … assumiria contornos mais drásticos, talvez dramáticos.
As organizações sociais, as instituições que se dedicam, cada qual no seu âmbito, ao bem comum são determinantes para a vida concreta de milhares de portugueses.
Sem as instituições civis de solidariedade social, o que seria daqueles a quem a pobreza - seja ela evidente ou escondida – bateu, ainda que inesperadamente, à porta?
Porém, as questões sociais não podem ser vistas somente no plano do Estado ou das próprias Instituições solidárias.
Se a sociedade depende da sua
sustentabilidade social, então o tema não é de uns, mas de todos.
O bem comum implica o conjunto da sociedade, embora em modos e alcances diversos.
As empresas e os empresários, por exemplo, são também atores indispensáveis para o desenvolvimento do pilar social.
A responsabilidade social das empresas deve representar muito mais do que um mero 'salvar de consciência' ou uma alínea do 'alívio fiscal' que sufoca tantas vezes o nosso tecido empresarial.
A
responsabilidade social das empresas deve representar muito mais do que um mero
‘salvar de consciência’
Felizmente, já muitos gestores e empresas perceberam que podem contribuir de modo variável, mas concreto, para a sustentabilidade social, mesmo em contextos adversos. E que essa sustentabilidade é indispensável à vida de cada pessoa, mas também ao desenvolvimento saudável das próprias empresas.
O pilar social é uma alavanca transversal. Desvalorizar o pilar social retarda o desenvolvimento, individual e comunitário.
Pontual ou permanente a ajuda a muitas pessoas continua, infelizmente, a ser indispensável. Porém, é cada vez mais necessário olhar à possibilidade de estruturar sustentavelmente pessoas e comunidades: sempre que possível, ensinar a pescar.
Numa altura em que o mundo atinge oito mil milhões de habitantes e em que as condições de empregabilidade vão ser reajustadas à escala global, até por força da revolução tecnológica em curso, há que repensar a economia e os sistemas sociais, particularmente os da educação e da proteção social.
São contextos desafiantes, mas é nestas circunstâncias que em Portugal, em 2022, devemos encarar os problemas sociais que continuam a envergonhar-nos.
Precisamos de alavancar o combate à pobreza, convocando as vontades e as ‘skills’ de todos: sociedade civil, empresas, sindicatos, instituições solidárias, universidades, dirigentes sociais, peritos, responsáveis políticos, representantes do Estado, independentemente das diferenças ideológicas ou das respetivas finalidades políticas.
Erradicar a pobreza deve constituir um desígnio nacional. Mas importa erradicá-la de forma sustentável. Uma coisa é matar a fome, outra, bem diferente, é matar a vergonha e recuperar a dignidade.
Uma coisa é matar a fome, outra, bem diferente, é matar a vergonha e recuperar a dignidade.
Valorizar o pilar social significa, no limite, valorizar as pessoas e o seu direito à vida, em condições diversas, mas sempre dignas e estimulantes.
José Luís Ramos Pinheiro