Autor: Patrícia Faro Antunes
ESG – Os Pilares Social e de Governança como transversais na causa e consequência da adoção de política de sustentabilidade
A implementação de políticas ESG
é cada vez mais uma realidade no nosso mercado. Por força regulatória, dos
consumidores, dos investidores e das visões estratégicas de gestão, assistimos
a um despertar para a forma como as práticas ESG podem criar impacto positivo,
contribuir para o desenvolvimento das organizações e aumentar o retorno. No
entanto, o ritmo de adoção de medidas varia de organização para organização e
mesmo dentro dos 3 pilares, ambiente, social e governança.
Neste momento, para a maioria das
empresas a prioridade é a transição para modos de atuação mais sustentáveis, de
forma a poderem contribuir para as metas climáticas e tornarem a sua produção
mais eficiente. O foco principal está assim na energia e emissões de carbono.
Mas, no pilar ambiental deveríamos ir mais além e olhar para a economia
circular, o uso de água, os impactos na biodiversidade e a qualidade e controlo
dos próprios dados.
no
pilar ambiental deveríamos ir mais além e olhar para a economia circular
Os pilares social e de governança
têm cada vez mais relevância ao nível interno e externo. Na verdade, estes
acabam por ser transversais na causa e consequência da adoção de políticas de
sustentabilidade. Na causa porque a sustentabilidade ambiental é, em si, também
uma causa social que requer novas visões de governança. Na consequência porque
bons resultados ambientais são também positivos para as pessoas e gestão da
empresa. Daí a necessidade destes 3 pilares serem vistos de forma integrada,
dentro de políticas estratégicas e não apenas de medidas avulsas. Uma boa
estratégia de sustentabilidade deve ser abrangente, extensiva e envolver todas
as partes de uma organização, atribuindo a cada um dos pilares a mesma
relevância.
No pilar social em concreto, é
importante começar por garantir o bem-estar e desenvolvimento das pessoas na
organização, oferecendo boas condições de trabalho, num ambiente de respeito e
inclusão. Isto não só torna as empresas mais produtivas como leva a uma maior
taxa de envolvimento e sucesso nas restantes medidas. O caminho passa também
pelo desenvolvimento de políticas de inclusão, diversidade e devida deligência
em Direitos Humanos, que se alarguem também à cadeia de fornecedores. Esta
última é particularmente importante para garantir um pilar social forte, mas
tende a ser a mais descurada pelas organizações. Através das suas compras, as
empresas têm o poder e a responsabilidade de influenciar o mercado nacional e
internacional, devendo garantir que todos os produtos adquiridos são produzidos
de forma ambiental e socialmente justas.
a cadeia de fornecedores é particularmente importante para garantir um pilar social forte
Todas estas medidas sociais são
co-dependentes de uma boa visão de governança. No geral, para garantir o
sucesso de medidas sociais e ambientais, o mais importante é desenvolver,
através da governança, uma cultura organizacional embutida do espírito ESG. Na
Accenture, utilizamos a expressão “built in, not bolted on” e a metodologia
“sustainability by design” para nos referirmos à sustentabilidade. Isto
significa que a nossa preocupação ao nível da estrutura interna e dos nossos
projetos, inclui as questões ambientais e sociais de forma inerente. Procuramos
constantemente ir mais além e encontrar formas de criar mais impacto positivo.
A par desta filosofia aplicamos com os nossos clientes o método “Valor 360º”,
através do qual procuramos aportar valor para todas as áreas da organização,
incluindo a vertente social e ambiental, em cada projeto.
desenvolver, através da governança, uma cultura organizacional embutida do espírito ESG
Para além de procurarmos
contribuições positivas para todos os stakeholders, preocupamo-nos com as
sensibilidades que os nossos projetos possam tocar, principalmente ao nível da
implementação de novas tecnologias, inteligência artificial, digitalização e
utilização de dados. Por isso, desenhamos uma estrutura preventiva de avaliação
e mitigação de riscos que nos leva a aplicar uma visão responsável desde o
primeiro momento, em cada projeto.
Esta forma de trabalhar
permite-nos criar uma cultura de exigência e impacto, que se reflete também ao
nível interno, na forma de estar e trabalhar das nossas pessoas, tornando-nos
uma empresa de excelência ao nível social.
Mas para além disto, adotamos
ainda outras medidas cruciais para o desenvolvimento de um pilar social forte.
Em primeiro lugar, incentivamos os colaboradores a participarem em projetos de
voluntariado e pro bono de modo a contribuirem para a comunidade, recompensando
e valorizando estas ações. No ano fiscal de 2021, realizámos 61 atividades de
voluntariado, que envolveram 235 colaboradores durante cerca de 980 horas. A consultoria pro bono a projetos sociais
ultrapassou as 11 mil horas em projectos escaláveis. Adicionalmente,
facilitámos a recolha de fundos e bens em parceria com organizações sociais,
tendo investido, em 2021, cerca de 320 mil euros neste âmbito. Também ao nível
da formação, apostamos na formação obrigatória para a inclusão e identificação
de enviesamentos cognitivos de modo a garantir que todos os colaboradores estão
abertos e capacitados paras as questões sociais da discriminação.
A
consultoria pro bono a projetos sociais ultrapassou as 11 mil horas
Todos estes dados, bem como
aqueles que apresentamos no nosso Relatório de Sustentabilidade anual, seguem
métodos de contabilização e reporte definidos internacionalmente e são
auditados. Esta é outra componente cada vez mais relevante, transversal a todas
as políticas ESG: a garantia da transparência e fiabilidade dos dados. Na
Accenture, somos signatários do “UN Global Compact”, monitorizamos os Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável e aplicamos as metodologias GRI e TCFD no nosso
Relatório. Estamos ainda a acompanhar o desenvolvimento da framework do “International
Sustainability Standards Board (ISSB)” bem como a nova legislação europeia
relativa ao reporte de sustentabilidade empresarial. No que toca ao reporte, é
mais fácil falhar por defeito do que por excesso e embora as diferentes
metodologias se complementem, é importante estudar cada uma para perceber as
suas diferenças e aplicabilidade à organização.
Aludindo à nova legislação
europeia, um dos maiores problemas atuais na implementação de medidas ESG passa
pela inexistência de regulação que estabeleça um ponto de partida igual para
todos. Apesar de na maioria dos casos a responsabilidade se traduzir em
poupanças a longo prazo, é difícil tomar decisões de investimento a curto prazo
e correr um maior risco. Neste momento, produzir de forma mais responsável
ainda pode ser mais caro, o que pode deixar uma empresa em desvantagem em
relação à concorrência e constituir um entrave à adoção de medidas mais
ambiciosas. Isto aplica-se não só na sustentabilidade ambiental, mas também
social. A adoção de boas práticas deve ser incentivada, fiscalizada mas também
recompensada pela regulação. Segundo um estudo desenvolvido pela Accenture,
apresentado na COP26, que envolveu entrevistas a 1232 CEO’s, de 113 países, os
governos ainda não ofereceram a clareza necessária para uma recuperação
económica compatível com o objetivo de manter o aumento da temperatura abaixo
dos 1.5ºC.
Figura 1. UN Global Compact–Accenture CEO Study on Sustainability, 2021, p18.
Para além disto, os CEO’s pedem
uma maior cooperação internacional, nomeadamente em matéria de mercados de
carbono, um maior alinhamento do financiamento público com os objetivos
climáticos e ainda o estabelecimento de frameworks de reporte harmonizadas,
incluindo para a monitorização dos impactos na biodiversidade¹. Estes problemas
são extensíveis às questões sociais, principalmente num contexto empresarial
internacional e complexo, onde a mobilidade de mercadorias e pessoas é uma
constante e a necessidade de harmonização de políticas sociais se revela cada
vez maior.
Assim, podemos concluir que o
pilar social detém um papel fundamental e transversal dentro das empresas,
embora seja muitas vezes relegado para segundo plano. Uma organização é feita
de pessoas e o seu bem-estar e impacto na sociedade são garantias de sucesso a
todos os níveis, incluindo financeiro e de sustentabilidade. Por isso, no
desenvolvimento de qualquer estratégia de sustentabilidade ou crescimento
empresarial, o pilar social deve ser assumido como uma prioridade que suporta a
estrutura em toda a sua atividade e não apenas como um degrau para atingir um
fim.
¹ UN Global Compact–Accenture CEO Study onSustainability, 2021, p66-68.
Patrícia Faro Antunes