Autor: Pedro Aragão Morais
TOXICODEPENDENTES
INTRODUÇÃO
A Lei da
Descriminalização do Consumo alterou a forma como se olha para um consumidor de
drogas, deixando de lado o preconceito que o comparava a um criminoso, passando
a considerá-lo como uma pessoa que necessita de ajuda e apoio especializado. O
Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD), tem
por missão promover a redução do consumo de substâncias psicoactivas, a
prevenção dos comportamentos aditivos e a diminuição das dependências. Os Centros
de Respostas Integradas são unidades de intervenção local de cariz operativo,
referenciados a um território definido e que dispõem de equipas técnicas
especializadas para as diversas áreas de intervenção - prevenção, dissuasão,
redução de riscos e minimização de danos, tratamento e reinserção. Em Portugal,
em 2012, cerca de 8,4% da população portuguesa entre os 15-74 anos já tinha
tido pelo menos uma experiência de consumo de substâncias ilícitas ao longo da
vida e 2,3% tinha consumido nos últimos 12 meses.
ÂMBITO
A amplitude do
termo “droga” refere-se a um grande número de substâncias com distintos efeitos
sobre a percepção, o pensamento, o estado de ânimo ou as emoções, com diferente
capacidade para produzir dependência e com significados diferentes para aqueles
que as consomem. Entendem-se como substâncias
psicoactivas, as seguintes: Álcool, Anfetaminas, Barbitúricos, Base Livre e
Crack, Benzodiazepinas, Clorídrato de Cocaína, Cogumelos Mágicos, Derivados da
Cannabis, Ecstasy, Heroína, Inalantes, Mescalina, Morfina, Ópio, Novas
Substâncias Psicoactivas, Tabaco, Xantinas.
Desde novembro de
2001 que a aquisição, a posse e o consumo de drogas deixou de ser considerado
crime em Portugal. O consumo foi descriminalizado, mas não despenalizado.
Consumir substâncias psicoactivas ilícitas, continua a ser um acto punível por
lei, contudo deixou de ser um comportamento alvo de processo crime (e como tal
tratado nos tribunais) e passou a constituir uma contra-ordenação social. Esta
mudança na legislação, vulgarmente chamada de Lei da
descriminalização do consumo alterou a forma como se olha para um
consumidor de drogas, deixando de lado o preconceito que o comparava a um
criminoso, passando a considera-lo como uma pessoa que necessita de ajuda e
apoio especializado.
Desde então muitas
foram as mudanças ocorridas. Criaram-se as comissões
para a dissuasão da toxicodependência (CDT), serviços especializados para a
aplicação da lei, para onde são encaminhadas pelas forças de segurança (PSP e
GNR) e tribunais as pessoas que se encontram a consumir ou na posse de drogas.
Estes serviços existem em todos os distritos de Portugal. As CDT são compostas
por equipas multidisciplinares preparadas para ouvir os indiciados (nome dado
às pessoas com processo de contraordenação por consumo ou posse de drogas),
avaliar a gravidade da situação e aplicar medidas que podem ser: encaminhamento
para serviços de apoio especializado, trabalho a favor da comunidade ou
pagamento de coima(s). O trabalho que as CDT desenvolvem acontece em estreita articulação
com os outros serviços da comunidade local, para que a ajuda às populações com
problemas de consumo de risco e dependência de drogas seja uma realidade. A
metodologia de intervenção subjacente às CDT, centra-se na valorização da
avaliação e da motivação dos consumidores para a mudança de comportamento, na
dissuasão dos consumos, na promoção da saúde, numa maior qualidade de vida, e
numa maior adesão aos apoios especializados disponíveis, sejam eles de
prevenção, tratamento ou reinserção. Identificamse em termos globais, entre a
população que chega às CDT, três níveis
de risco, determinando cada um deles o nível de intervenção que lhe é
dirigido: Baixo Risco (Avaliação do indiciado, do risco e da motivação para a
mudança; Intervenção preventiva e educacional); Risco Moderado (Intervenção
breve e motivacional; Encaminhamento / referenciação); Alto Risco
(Acompanhamento e referenciação para estruturas de tratamento especializadas).
A prevenção ou intervenção preventiva tem
como objectivo fornecer aos indivíduos e/ou a grupos específicos conhecimentos
e competências necessárias para lidarem com o risco associado ao consumo de
substâncias Psicoactivas e outros Comportamentos Aditivos e Dependências (CAD).
Age igualmente sobre contextos reduzindo a presença de factores facilitadores
da instalação dos supracitados comportamentos ou promovendo o desenvolvimento
de factores de protecção. As estratégias preventivas destinam-se à população
geral, a subgrupos e a indivíduos e aplicam-se nos domínios do indivíduo, da
família, da escola e da comunidade.
A abordagem da Redução
de Riscos e Minimização de Danos (RRMD) foi inicialmente concebida para
intervir junto de consumidores inacessíveis, para os quais o serviço de
tratamento tradicional não estava disponível ou que, estando disponível, não
estava acessível ou não era motivo de intenções. Pretendia-se chegar aos
consumidores que não queriam ou não conseguiam deixar de consumir,
fornecendolhes informações de redução de riscos e danos. Desenhando um quadro
genérico, dir-se-ia que tradicionalmente, a população alvo desta abordagem tem
consistido nos consumidores de heroína e cocaína de longa data, particularmente
marginalizados, fragilizados a nível social e da saúde, que não pretendem ou
não conseguem abandonar o consumo e que não contactam os serviços da rede de
apoio, nomeadamente serviços de tratamento da dependência.
O Tratamento poderá ser definido, de
forma geral, como a disponibilização de uma ou mais intervenções estruturas
destinadas a lidar com os problemas de saúde e outros, que resultam dos
comportamentos aditivos e dependências, visando melhorar o funcionamento
pessoal e social. O Percurso de tratamento inicia-se quando um individuo com
comportamentos aditivos e / ou dependência entra em contato com um técnico ou
serviço de saúde, iniciando um processo terapêutico que se concretiza por uma
integração de intervenções especificas. O tratamento pode decorrer em
diferentes tipos de enquadramentos e estruturas (ambulatório, internamentos,
centros de dia), recorrer a diferentes formas de intervenção e ter uma duração
variável; sendo uma doença crónica e sujeita a recaídas, as perturbações
aditivas requerem frequentemente um processo de tratamento a longo prazo
envolvendo múltiplas valências e exigindo acompanhamento regular. Dentro deste
contexto as recaídas terão de ser entendidas, em termos de planificação do
tratamento, como momentos críticos que sinalizam a necessidade de reajustamento
da estratégia terapêutica às necessidades presentes do doente, em termos de
valências a mobilizar e/ou intensidade e frequência da intervenção. O
tratamento de uma pessoa com comportamentos aditivos ou dependência pode
requerer a combinação de diferentes intervenções terapêuticas:
psicofarmacológicas, psicoterapêuticas, médicas, intervenções sistémicas e
reabilitação social. Como seria de esperar, à luz da definição de doença
aditiva, a evidência científica suporta fortemente a relação entre melhores
resultados em termos de tratamento e a combinação de diferentes tipos destas respostas.
A acessibilidade ao tratamento para pessoas com comportamentos aditivos e
dependências é um factor importante: não só a natureza da perturbação implica
uma forte ambivalência no que respeita ao envolvimento em tratamento como a sua
natureza crónica determina que quanto mais precocemente se inicie o tratamento,
maiores sejam as possibilidades de sucesso. Por outro lado, as estruturas de
tratamento devem adequar-se às características específicas dos diferentes
subgrupos da população com comportamentos aditivos e dependências, atendendo às
questões de género, fases do ciclo de vida, contextos sociais, substâncias e
tipo e grau da perturbação aditiva.
Os percursos de Reinserção de indivíduos com problemas
de uso e abuso de substâncias psicoactivas são, caracteristicamente, lentos e
sinuosos, exigindo intervenções globais e sistémicas que contribuam para a sua
sustentabilidade. Nesta óptica, a abordagem no âmbito da inserção social
extravasa a correcção dos comportamentos e das atitudes dos indivíduos,
centrando-se também na transformação, não menos profunda, das instituições, dos
agentes sociais e económicos. O acompanhamento dos processos de inserção
constitui por si, uma estratégia que garante a avaliação permanente do
percurso, a correcção de opções e o apoio de retaguarda ao indivíduo, numa
lógica proactiva de prevenção da recaída.
O Plano
Nacional para a Redução dos Comportamentos Aditivos e das Dependências
2013-2020 (PNRCAD), da responsabilidade do SICAD, assenta na intervenção em
dois grandes domínios: a redução da procura e a redução da oferta dando, de
forma equilibrada, a devida relevância às duas abordagens. No que se refere à redução da procura, o Cidadão constitui
o centro da conceptualização das políticas e intervenções nos CAD, tendo como
pressuposto de base que é fundamental responder às necessidades dos indivíduos,
perspectivadas de forma dinâmica no contínuo do seu ciclo de vida. No que se
refere à redução da oferta, a
diminuição da disponibilidade e do acesso às substâncias ilícitas tradicionais
e às novas substâncias psicoactivas, a regulamentação do mercado das
substâncias lícitas e respetiva fiscalização e harmonização dos dispositivos
legais já existentes ou a desenvolver, nomeadamente no que se referente à área
do jogo e a internet, constituem o centro das políticas e intervenções, assente
no pressuposto da cooperação nacional e internacional.
Em relação a
Comportamentos Aditivos e Dependências sem Substâncias Psicoactivas,
considera-se relevante referir o fenómeno do jogo. É possível efectuar uma
classificação dos jogadores segundo diferentes níveis de severidade que
espelham um contínuo com diversos estádios entre o jogo enquanto elemento de lazer ou profissional e o jogo enquanto
perturbação com significado clínico.
RESPOSTAS
Data de 1997, a criação do Serviço de Prevenção e
Tratamento da Toxicodependência que, sob a tutela do Ministério da Saúde,
permitiu o alargamento da rede de serviços públicos por forma a garantir o
acesso a cuidados de prevenção, tratamento e reinserção social e profissional
de todos os cidadãos afetados pela toxicodependência.
No final dos anos
noventa, Portugal enfrentava um grave problema social e de saúde pública, por
causa do fenómeno da toxicodependência, em particular no que diz respeito ao
consumo problemático de heroína, cujas estimativas apontavam para um número
muito próximo dos 100 mil utilizadores, por parte de uma população altamente
fragilizada do ponto de vista social. É neste quadro que se estabelece a
primeira Estratégia
Nacional de Luta Contra a Droga e a Toxicodependência, para um horizonte
temporal de 1999 a 2004. Para além do reforço de toda a intervenção já
existente nas áreas da prevenção, tratamento e reinserção foram, também,
criadas, respostas na área da redução de
riscos e minimização de danos (RRMD), tais como, Equipas de Rua, Gabinetes
de Apoio, Programas de Substituição Opiácea de Baixo Limiar de Exigência,
Centros de Acolhimento, Centros de Abrigo com inclusão de equipas técnicas na
área das dependências e Pontos de Contacto e Informação e que hoje constituem a
Rede Nacional de RRMD.
Mantendo uma lógica
de proximidade à comunidade, todo o trabalho de intervenção nas dependências
foi sendo desenvolvido, através da criação de uma rede de respostas integradas
e complementares ao fenómeno do uso e abuso de substâncias psicoactivas, numa
base territorial preconizada pelos Centros de
Respostas Integradas (CRI), os quais se constituem com unidades de
intervenção local de cariz operativo, referenciados a um território definido e
que dispõem de equipas técnicas especializadas para as diversas áreas de
intervenção, nomeadamente, tratamento, prevenção, reinserção e redução de
riscos e minimização de danos.
Desde 2011, com a
nova orgânica do Ministério da Saúde, foi criado o Serviço de Intervenção nos
Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD), que veio substituir o então
extinto Instituto da Droga e da Toxicodependência. O SICAD tem por missão
promover a redução do consumo de substâncias psicoactivas, a prevenção dos
comportamentos aditivos e a diminuição 57 TOXICODEPENDENTES Referencial Técnico
COMBATE À POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL das dependências. Algumas das suas
principais atribuições:
· Planear e avaliar os programas de prevenção, redução de
riscos e minimização de danos, de reinserção social e de tratamento do consumo
de substâncias psicoactivas, dos comportamentos aditivos e das dependências;
· Planear a intervenção no âmbito
dos comportamentos aditivos e das dependências, através de uma rede de referenciação entre cuidados
primários, centros de respostas integradas e unidades de internamento ou
unidades hospitalares, consoante a gravidade da dependência ou dos consumos de
substâncias psicoactivas;
· Prestar o apoio técnico e
administrativo e garantir as infraestruturas necessárias ao funcionamento das Comissões para a Dissuasão da
Toxicodependência;
· Definir os requisitos para o licenciamento de unidades privadas
prestadoras de cuidados de saúde na área das dependências e comportamentos
adictivos;
·Promover a formação no domínio das substâncias psicoactivas, dos
comportamentos aditivos e das dependências.
O Programa de Respostas Integradas (PRI) é um programa de intervenção específico que integra respostas interdisciplinares e multissectoriais, com alguns ou todos os tipos de intervenção (prevenção, dissuasão, redução de riscos e minimização de danos, tratamento e reinserção) e que decorre dos resultados do diagnóstico de um território identificado como prioritário. No PRI sobressai a necessidade da integração das actuações, numa perspectiva de conjugação de esforços dos intervenientes, de rentabilização de recursos pelo estabelecimento de parcerias, tendo sempre em vista o interesse dos sujeitos a abranger e o conjunto da população, estimulando a sua participação nas acções. Também no âmbito do PRI, destaca-se a noção de empowerment, enquanto conceito fundamental do modelo de intervenção no âmbito do consumo de substâncias psicoactivas, entendido como um processo de mudança desejável no sentido de reforço da autonomia dos ‘territórios’ para a resolução de problemas, permitindo promover a realização de intervenções coerentes e sustentáveis no tempo.
A Rede
de Referenciação / Articulação no âmbito dos Comportamentos Adictivos e das
Dependências procura garantir ao cidadão portador de problemas ligados aos
Comportamentos Aditivos e Dependências (CAD) o acesso aos cuidados de saúde
integrados, beneficiando para tal das respostas que, em cada momento,
efectivamente necessita. Esta Rede alia os serviços de saúde públicos, os
diferentes sistemas, potencialmente, envolvidos no trajecto de acompanhamento
destas populações (Segurança Social, Educação, Segurança Pública, Justiça), bem
como os dispositivos dirigidos à problemática da violência doméstica /
familiar, às crianças e jovens em risco e aos jovens com problemas de adaptação
e inclusão social, mas também entidades privadas.
A Rede de
Referenciação / Articulação no âmbito dos Comportamentos Aditivos e das
Dependências está estruturada em três níveis de intervenção:
·
Nível 1 – Consumo de Baixo Risco
(perturbações de comportamento e dependência ligeira);
·
Nível 2 – Consumo Nocivo
(dependência, comportamentos de risco, comorbilidade);
·
Nível 3 – Dependência (casos de
psicopatologia grave e policonsumo).
Os tipos de intervenção recomendados são
diferentes para cada um destes níveis:
·
Nível 1 – Prevenção selectiva;
Intervenção precoce; Programas comunitários;
·
Nível 2 – Tratamento integrado;
Redução de riscos e minimização de danos; Reintegração;
·
Nível 3 – Internamento; Programas
de desintoxicação e desabituação;
Os cuidados de
saúde específicos para cada um destes níveis são os seguintes:
·
Nível 1 – Cuidados de saúde
primários em unidades funcionais e cuidados preventivos nos CRI;
·
Nível 2 – Cuidados especializados
nos CRI;
·
Nível 3 – Cuidados de saúde
hospitalares;
No âmbito da
prestação de Cuidados de Saúde Primários, salienta‐se a estrutura dos
Agrupamentos dos Centros de Saúde,
os quais incluem várias unidades, nomeadamente, de Saúde Familiar e de Cuidados
na Comunidade. Sem prejuízo de actuarem fundamentalmente no Nível de
Intervenção II e III, sempre que a especificidade dos problemas e/ou da
abordagem se justifique, as Equipas
Técnicas Especializadas em CAD, dos Centros de Respostas Integradas (CRI),
também intervêm no Nível I, nomeadamente no âmbito da Prevenção Selectiva e
Indicada e de Projectos de Intervenção Comunitária. De referir ainda as Comissões para a
Dissuasão da Toxicodependência, enquanto entidades de intervenção local,
referenciadoras de indivíduos em contraordenação pelo consumo, aquisição e
detenção para consumo próprio de substâncias psicotrópicas ilícitas e
estupefacientes, conduzidos pelas Forças de Segurança.
No Nível de
Intervenção II estão envolvidos os Cuidados de Saúde Especializados,
designadamente os Centros de
Respostas Integradas (CRI) através das Equipas
Técnicas Especializadas na intervenção em CAD, as Unidades de Alcoologia,
as Comunidades Terapêuticas públicas e as Áreas de Dia / Centro de Dia, mas
também as Equipas / Unidades de Saúde Mental, integradas nos Serviços Locais de
Saúde Mental e as Equipas de Apoio Intensivo à Cessação Tabágica. Acedem também
a este nível, utentes referenciados pelos serviços hospitalares, por IPSS e
outras ONG privadas, por Tribunais, por Comissões de Protecção de Crianças e
Jovens (CPCJ), pela Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana,
Estabelecimentos Prisionais, entre outros. Nos CRI, as Equipas Técnicas
Especializadas preconizam o Modelo de Tratamento Integrado, constituindo este o
principal eixo da abordagem multidisciplinar em CAD, com auxílio a diversos
recursos terapêuticos, nomeadamente programas específicos de tratamento, e
programas de reabilitação/ reinserção. Principais valências destas equipas de
tratamento nos CRI: consultas de abordagem biopsicossocial; apoio psicoterapêutico;
consultas médicas; programas específicos de tratamento; consultas de
fisioterapia; consultas destinadas a públicos‐alvo específicos (crianças e
jovens, grávidas e doentes com patologia mental concomitante, famílias). Em
complementaridade com a actuação das restantes Equipas Técnicas Especializadas em CAD, também a intervenção das
Equipas de Reinserção assenta numa lógica integrada e de continuidade,
colocando o enfoque na reparametrização das rotinas quotidianas dos indivíduos,
no desenvolvimento de competências sociais. Também estando integradas nos CRI e concorrendo para a prossecução
dos objectivos do tratamento integrado, importa referir a intervenção,
fundamentalmente no Nível II, das Equipas de Redução de Riscos e Minimização de
Danos que actuam numa lógica de parceria e complementaridade quer com as restantes Equipas Técnicas Especializadas
em CAD quer com as instituições promotoras de programas e estruturas sócio
sanitárias de RRMD. Os dispositivos existentes de RRMD são: Gabinetes de Apoio
a Toxicodependentes; Centros de Acolhimento; Centros de Abrigo; Espaços móveis
de prevenção de doenças infecciosas; Pontos de Contacto e de Informação;
Programas de troca de seringas; Equipas de Rua. Para a prossecução das suas
atribuições e competências, as Equipas Técnicas Especializadas em CAD nos CRI
têm uma composição multidisciplinar, designadamente de médicos, enfermeiros,
psicólogos, assistentes sociais, técnicos psicossociais, entre outros.
Na abordagem dos
problemas ligados ao álcool, as Unidades
de Alcoologia (UA), enquanto UIL que operam essencialmente nos Níveis II e
III, são as estruturas especializadas de referência na prestação de cuidados
mais diferenciados e integrados a doentes com problemas de consumo nocivo e
dependência alcoólica moderada a grave, em regime de ambulatório ou
internamento. Dotadas de equipas multidisciplinares (médicos de medicina geral
e familiar e psiquiatras, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, técnicos de
serviço social e terapeutas ocupacionais) disponibilizam várias modalidades de
programas de tratamento individualizado, com vista à manutenção da abstinência,
à prevenção das recaídas, à redução de danos e à reabilitação social e
familiar.
Nas Comunidades
Terapêuticas (CT), especializadas e de internamento prolongado
(habitualmente com a duração de 3 a 12 meses), pretende‐se dar resposta
terapêutica a utentes em tratamento noutras unidades – Nível II e III, e que
apresentem algumas das seguintes características: Casos com um elevado grau de
desestruturação psicológica, familiar e/ou social, que tenham necessidade de um
afastamento temporal do meio em que estava inserido; Fracasso dos múltiplos
tratamentos realizados em ambulatório; Motivação para a mudança do estilo de
vida; Situação judicial problemática. O programa terapêutico numa CT oferece
uma abordagem global com actividades do 59 TOXICODEPENDENTES Referencial
Técnico COMBATE À POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL tipo psicoterapêutico, ocupacional,
socioeducativo e médico‐sanitário.
Para as situações em que o utente apresenta comorbilidade psiquiátrica e que esteja a necessitar de cuidados especializados e diferenciados deve ser feita a referenciação, num dado território, para a Equipa / Unidade de Saúde Mental Comunitária. A estas equipas compete o desenvolvimento de programas integrados para doentes mentais graves, programas de articulação com os CSP no âmbito a perturbações mentais comuns; programas de apoio a doentes idosos e programas de prevenção nas áreas da depressão e suicídio.
O Nível III exige a
intervenção das Unidades
de Desabituação, mas também, com frequência, dos Serviços Locais de Saúde
Mental, bem como os Serviços de Especialidades Médico‐cirúrgicas Hospitalares.
Estas unidades são estruturas orientadas para internamentos programados de
curta duração, enquanto etapa do Projecto terapêutico, com uma abordagem
preferencial de tratamento psicofarmacológico, apoio psicoterapêutico e
educação para a saúde. As principais situações que as UD estão capacitadas para
dar resposta são: Tratamento eletivo da síndrome de privação de heroína de rua
e outras substâncias; Estabilização / ajuste da dose / descontinuação de
programas de tratamento com metadona; Tratamento de comorbilidade psiquiátrica
e médica ligeira.
Aos Serviços de Especialidades Médico‐ Cirúrgicas
Hospitalares compete o tratamento, em ambulatório e internamento, de
doentes com CAD que, em termos clínicos, necessitam de cuidados diferenciados e
específicos, como é no caso da gravidez, de doenças infecciosas, entre outras.
Dadas as características específicas desta intervenção, é importante a
continuidade do tratamento na unidade que referenciou o utente, no seu programa
de tratamento individualizado.
BOAS PRÁTICAS
Projecto Raízes - Intervenção
assegurada pela associação Caminhar, entre os meses de junho de 2007 e agosto
de 2009, no âmbito do Programa de Intervenção Focalizada do IDT - Instituto da
Droga e da Toxicodependência, envolvendo parcerias com a Câmara Municipal de
Ponte de Sor, CPCJ, Centro de Saúde e Escola Secundária locais. Os objectivos
principais do Projecto eram os seguintes: (1) Diminuir a incidência e
prevalência do consumo de SPA nas famílias alvo da intervenção; (2) Promover a
aquisição e integração de competências pessoais, sociais e parentais no
quotidiano da vida familiar e social do grupo alvo de intervenção. O grupo-alvo
da intervenção era abrangente, compreendendo crianças, adolescentes,
jovens-adultos e respetivas famílias. Beneficiaram do Projecto Raízes 15
famílias com diagnósticos diferenciados, nomeadamente, famílias oriundas de
bairros problemáticos do concelho, famílias cujos pais apresentavam problemas
de alcoolismo, famílias onde existiam crianças/jovens, não só expostas a
situações de risco como também a problemas de saúde devido à falta de condições
de habitação. De acordo com os dados apurados verificou-se que em todas as
acções e em todos os indicadores os valores estiveram acima dos 60%. A maioria
das acções foi avaliada muito positivamente ao nível de todos os indicadores
(100%), sendo que as restantes outras acções também tiveram valores positivos
(70%- 100%). Na amostra em questão constatou-se que apesar de não existirem
diferenças significactivas em termos da diminuição dos consumos, verificouse
que a informação transmitida promoveu pequenas mudanças nos sistemas de valores
e atitudes face ao consumo de substâncias e os riscos associados. Apesar dos
instrumentos utilizados não permitirem quantificar o grau de melhoria nas
relações familiares, considera-se que ao se adquirir e desenvolver as
competências aprendidas ao longo do Projecto, os conflitos familiares
diminuíram, fazendo com que passasse a haver um melhor ambiente familiar e
aumento dos factores protetores no quotidiano das famílias. No que toca às
competências das crianças e dos jovens, os dados apontam para uma mudança não
no global, mas em aspectos específicos, nomeadamente ao nível da autoestima e
sentimentos nas crianças e a assertividade nos jovens. A estratégia preventiva
subjacente a esta intervenção considera-se bem-sucedida, na medida em que ao
longo dos dois anos de realização do Projecto, na faixa etária (12-18) mais
propícia ao início dos consumos, inserida num contexto extremamente vulnerável,
não surgiram novos casos de consumo. Este Projecto teve ainda 60
TOXICODEPENDENTES Referencial Técnico COMBATE À POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL o
mérito de formar uma equipa de 10 mediadores familiares para a intervenção
directa junto de famílias vulneráveis.
Viveiros Floricultura –
Promovido pela DIANOVA, este Projecto foi criado ao abrigo da medida “Empresa
de Inserção” da Comissão do Mercado Social de Emprego – I.E.F.P, tendo por
objectivos a reinserção de toxicodependentes reabilitados e desempregados de
longa duração com dificuldades de inserção no mercado de emprego;
desenvolvimento e consolidação de competências socioprofissionais; e a promoção
de condições de emprego através da celebração de contratos de trabalho e
profissionalização na área da floricultura. Dedica-se à produção e
comercialização de plantas de exterior, dispondo de grande variedade de plantas
verdes e com flor, um processo de produção moderno e de qualidade e a preços
competitivos e socialmente justos. Empresa de inserção, com 23 estufas ocupando
uma área de 10.000 m², a Viveiros Floricultura encontra-se dotada de
equipamento moderno e especializado – estufas climatizadas, sistemas de rega
computorizados, misturadora e envasadora mecânica. O cliente, ao comprar
plantas da Viveiros Dianova, está a contribuir para o aumento da capacitação
profissional e inclusão social de pessoas com maiores vulnerabilidades face ao
mercado normal de emprego.
INDICADORES
Em Portugal, em
2012, cerca de 8,4% da população portuguesa entre os 15-74 anos já tinha tido
pelo menos uma experiência de consumo de
substâncias ilícitas ao longo da vida e 2,3% tinha consumido nos últimos 12
meses. Considerando qualquer experiência de consumo ao longo da vida e o
consumo recente (últimos 12 meses), verificase que a substância ilícita mais
consumida no país é a cannabis (8,3%/2,3%), seguida do ecstasy (1,1%/0,2%) e da
cocaína (1,0%/0,2%). Independentemente do tipo de consumo (experimental,
recente ou actual) e da substância, os consumos são sempre superiores no sexo
masculino e nas idades compreendidas entre os 15 e os 44 anos.
No que respeita ao consumo de bebidas alcoólicas, em Portugal, o consumo anual per capita de álcool (registado e não registado) na população adulta (15 ou mais anos) era em 2009 de 13,43 litros (álcool puro), um pouco superior à média europeia. Em 2012, cerca de 73% da população portuguesa entre os 15-74 anos já tinha tido pelo menos uma experiência de consumo de bebidas alcoólicas ao longo da vida e 60% tinha consumido nos últimos 12 meses. Quanto ao consumo de medicamentos psicoactivos (sedativos, tranquilizantes ou hipnóticos), em 2012, cerca de 22% da população portuguesa entre os 15-74 anos já tinha tido pelo menos uma experiência de consumo deste tipo de medicamentos (20,4% através de prescrição médica e 1,4% sem prescrição) e 13,7% tinha consumido nos últimos 12 meses.
Quanto ao consumo de medicamentos psicoactivos
(sedativos, tranquilizantes ou hipnóticos), em 2012, cerca de 22% da população
portuguesa entre os 15-74 anos já tinha tido pelo menos uma experiência de
consumo deste tipo de medicamentos (20,4% através de prescrição médica e 1,4%
sem prescrição) e 13,7% tinha consumido nos últimos 12 meses.
De uma forma geral,
entre 2007 e 2012, a tendência da evolução do consumo de substâncias
psicoactivas na população portuguesa entre os 15- 64 anos é para uma redução ou
uma estabilização dos consumos. Importa, no entanto, referir que alguns estudos
apontam para prevalências e padrões de consumo de substâncias psicoactivas mais
preocupantes em determinadas etapas do ciclo de vida, designadamente na dos
15-24 anos, evidenciando mesmo tendências de agravamento. 61 TOXICODEPENDENTES
Referencial Técnico COMBATE À POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL No quadro do
reconhecimento de problemas relacionados com o consumo de substâncias
psicoactivas e consequente procura de tratamento, verifica-se que, em 2011, o
número de utentes integrados na rede pública de tratamento de substâncias
ilícitas e/ou álcool foi de 45.863 em ambulatório - 38.292 atendidos nos
Centros de Respostas Integradas (CRI) e 7.571 nas Unidades de Alcoologia (UA).
Na rede pública e convencionada, o número de internamentos foi de 3.142 em
Comunidades Terapêuticas (CT), 1.804 em Unidades de Desabituação (UD) e 811 nas
UA. Em contexto prisional, cerca de 1.184 reclusos iniciaram programas
farmacológicos. Por sua vez, em 2011, o número de utentes sem enquadramento
socio familiar de estruturas de Redução de Riscos e Minimização de Danos (RRMD)
apoiadas pelo IDT,IP foi de 12.550.
Nas estruturas de
tratamento da dependência das redes pública e privada licenciada, de um modo
geral, verifica-se uma tendência de decréscimo nos últimos anos dos valores de
positividade nos rastreios de diversas doenças
infecciosas, em particular do VIH (entre 2% e 10% em 2011) e Hepatite C
(entre 20% e 47% em 2011). Mais residuais são os valores de positividade para a
Hepatite B (entre 1% e 3% em 2011) e Tuberculose (valores iguais ou inferiores
a 1%).
Em Portugal, as
tendências recentes expressas através de diversos indicadores no domínio da oferta de drogas ilícitas, enquadram-se
de um modo geral, nas tendências europeias. A maioria das apreensões efectuadas
em Portugal está relacionada com a cannabis, reflectindo a elevada prevalência
de consumo na população. Mantém-se o predomínio de apreensões de haxixe, entre
2009 e 2012 foram efectuadas 12.598 apreensões, num total de cerca de 90,7
toneladas. As apreensões de cocaína ganharam maior visibilidade sobretudo desde
2005, tornando-se a segunda substância com maior número de apreensões (entre
2009 e 2012 foram efetuadas 5644 apreensões de cocaína, num total de cerca de 13,6
toneladas).
LEGISLAÇÃO
· Resolução
do Conselho de Ministros 46/99 - Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga
e a Toxicodependência 1999-2004.
· Lei
n.º 30/2000, de 29 novembro - Regime jurídico aplicável ao consumo de
estupefacientes e substâncias psicotrópicas.
· DL
n.º 130-A/2001, de 23 abril – Despenalização do consumo de droga, a
aquisição e a posse para consumo próprio.
· DL
n.º 183/2001 de 21 de junho – Criação das respostas na área da redução de
riscos e minimização de danos (RRMD).