Após já alguns anos a trabalhar no terceiro sector (já lá vão mais de seis…) e vindo de uma experiência de vários anos (já estou naquela idade em que prefiro não dizer quantos) em multinacionais, ainda hoje me custa a perceber alguns mitos e assuntos tabus em relação à comparação das organizações do terceiro sector com as empresas… Na verdade, se calhar nunca irei perceber.

Ouve-se muitas coisas sobre o profissionalismo, o voluntariado, sobre o voluntarismo e as competências, sobre o que se consegue ou o “faz-se os possíveis”…

Na verdade, do meu ponto de vista, o conceito é simples. Quem trabalha no terceiro sector tem uma responsabilidade acrescida: em construir a resposta à comunidade, em entregar a sua missão de forma relevante e eficiente e em prestar contas, de volta à comunidade. Talvez seja bastante simplista, mas é assim que penso. Acaba por ser uma relação simples de dar e receber. A comunidade confia e apoia e a organização responde com excelência e eficiência no cumprimento da sua missão e presta contas. Só assim se consegue construir uma missão que entregue uma resposta relevante à comunidade e que consiga gerar confiança para criar sustentabilidade.

Voluntários ou remunerados?

A minha resposta tende a ser muito simples, mais uma vez: profissionais competentes. Se são remunerados ou se trabalham em regime pro-bono, dependerá dos casos e das organizações. Será, no meu ponto de vista, construído consoante o que fizer mais sentido e aquilo que assegurar a maior qualidade e eficiência do trabalho de uma organização.

Na Operação Nariz Vermelho, a equipa é remunerada. Tanto os Doutores Palhaços que trabalham em duplas fixas em cada um dos 17 hospitais públicos que visitamos, como a equipa do escritório que trabalha para assegurar a sustentabilidade da organização, que cuida da imagem da nossa marca, que cuida das nossas contas, que organiza o trabalho nos hospitais, que estuda o impacto do nosso trabalho…

Acredito numa equipa competente, responsável, autónoma. Numa equipa comprometida e unida em torno de um trabalho com busca de excelência para melhor cumprirmos com a missão a que nos propormos.

Se são voluntários ou remunerados? Só deverá ser importante para a gestão da organização que saberá fazer as melhores escolhas em cada momento e em cada actividade.

Voltando ao meu ponto de partida, se quiser comparar o terceiro sector com o sector empresarial diria que o terceiro sector deve ser:

Mais responsável, mais eficiente (ou pelo menos tão eficiente), mais comprometido, mais transparente.

Respondemos à comunidade que nos dá um voto de confiança e por isso temos uma responsabilidade acrescida.

Gerimos os fundos da comunidade, por isso temos a obrigação de o fazer de forma profissional e eficiente.

Trabalhamos para uma missão que é relevante para todos, por isso temos de ser comprometidos.

Confiam-nos a entrega uma missão, por isso temos de ser transparentes no nosso trabalho.

Por Rosária Jorge - Directora Executiva da Operação Nariz Vermelho