NÃO DESPERDIÇAR

Autor: Luísa Beltrão

NÃO DESPERDIÇAR

Todas as crises, grandes ou pequenas, gerais ou singulares, fazem emergir as fragilidades. Esta pandemia é uma crise mundial que se caracteriza pela sua dimensão e por tocar naquilo que temos de mais precioso: a vida; e apanhou-nos desprevenidos. Os Órgão Sociais encarregam-se de manter o foco sobre ela de um modo obsessivo, agigantando o medo e coagindo-nos a uma submissão às regras que defendem do naufrágio: afastarmo-nos do contacto humano.

Além disso, este vírus aparece como um monstruoso depurador social: aniquilar os velhos, os doentes, os que têm deficiências ou limitações, aqueles que pesam na balança fiduciária, consumindo sem produzir. (Uma dúvida surge: terei EU alguma patologia que irá tornar o contágio mortal, como tem acontecido?) É uma tentação privilegiar a economia, em detrimento da dispendiosa batalha pela salvação dos fracos. Mas a escolha da maioria dos governantes está patente: salvar vidas, sejam elas quais forem, mesmo à custa do afundamento da economia. Os países incumpridores são cruelmente castigados exibindo-se um número crescente de mortes e de contaminados (não se fala de percentagens mas de absolutos, uma morte é uma morte). Caso dos E.U., do Brasil... e há crises políticas.

este vírus aparece como um monstruoso depurador social

Decorrente disso, a crise económica mundial abala profundamente as sociedades, e uma grande parte delas vê-se sem trabalho, sem dinheiro e, sobretudo, numa insegurança de futuros que gera o desespero.

Neste cenário, qual o sentido da Responsabilidade Social? A coletiva e a individual?

O confinamento compulsivo, que eliminou as habituais distrações e suspendeu as rotinas, força-nos a estar connosco próprios e a diferenciar o importante do acessório. Por exemplo, evidencia o valor incalculável das nossas relações humanas.

Noto, agora que já saio para compras, as pessoas muito mais amáveis, muito mais atentas, como se de repente fossem obrigadas a “ver” o outro de quem não se podem aproximar. Os movimentos de solidariedade proliferam. Ou seja, parece que a consciência social tem vindo a crescer.

as pessoas muito mais amáveis, muito mais atentas

Há muito tempo que na Europa, e um pouco por todo o mundo, se vem construindo um espírito assente nos direitos de todos sem exceção, facultando condições especiais aos que têm limitações, fragilidades, deficiências de qualquer natureza. No entanto, existe um enorme fosso entre a teoria e a prática, pois que as mentalidades demoram muitíssimo mais a mudar do que as intenções políticas e respetiva legislação.

as mentalidades demoram muitíssimo mais a mudar

Aquilo que me ocorre neste momento é alertar para que esta época, difícil mas preciosa em termos civilizacionais, não seja desperdiçada. Temos de unir esforços e ajudar-nos mutuamente a entender que a coisa mais importante é a QUALIDADE DE VIDA para todos e para tudo, incluindo a natureza pois dependemos dela e uns dos outros.

Quem puder ajudar-se a si próprio e ao outro a ter qualidade de vida, pois que arregace as mangas e aja.

Por Luísa Beltrão, fundadora do Pais-em-Rede

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