Uma Economia Sustentável

Autor: Teresa Ricou

Uma Economia Sustentável

A SUSTENTABILIDADE pressupõe uma reestruturação global e profunda dos modelos e dos valores que regem as nossas sociedades:

    a) Ao nível político, com a implementação da matriz da democracia participativa, livre acesso à informação e controlo social sobre as principais decisões públicas e/ou privadas com impacto social relevante;

    b) Ao nível económico, com a adopção do princípio da meta-economia (uma economia com dimensão ética) e da economia circular (contrariando o desperdício e o consumismo desenfreado);

    c) Ao nível cultural, assumindo a cultura como instrumento e espaço vital de consciencialização, empoderamento cívico, equidade e inclusão social.

Destes princípios e desta praxis se reivindica e se funda o Chapitô há mais de quatro décadas.

O Chapitô é uma Casa de Artes e de Artistas. Por isso assumimo-nos marginais. Porque é nas margens, onde dialogam os elementos, que mais fértil a vida surge.

O Chapitô é uma Casa de Educação e de Promoção Cívica. Por isso somos radicais. Reivindicamos o direito ao pensar total, paradoxal e descentrado.

O Chapitô é uma Casa de Cultura. Por isso a nosso ADN é a contracultura. A reinvenção permanente do presente convocando passados e futuros, memórias e sonhos, vivido e devir.

A “cidade” que participamos e intuímos é uma cidade de pessoas, de dar-as-mãos, de fecundar projectos, grávida de horizontes, contrariando destinos malfadados e construindo, em comum, tantas “varinhas-de-condão” quanto a necessidade de mudar as vidas para melhor vida.

Esta Casa de Cultura e Cidadania, esta Casa de Educação, esta Casa das Artes, esta Casa Plural, é sustentada por uma economia com rosto, uma economia social ao serviço também dos mais desprotegidos da nossa cidade. Falamos de uma nova civilidade.

Muitas das instituições formais e informais da sociedade civil, entre as quais se inclui o Chapitô como ONGD, procuram contrariar no quotidiano as lógicas de poder na tomada de decisão, que vão favorecendo exclusões e excluídos, criando e prosseguindo uma matriz democrática e dialógica na governabilidade das instituições e instituindo uma economia social que, muito em síntese, poderíamos apelidar de economia da equidade e da sustentabilidade:

    (i) Economia da equidade porque pressupõe solidariedade e responsabilidade social na gestão e distribuição dos bens e recursos;

    (ii) Economia da sustentabilidade porque assume e inclui nas decisões uma visão ecológica e transdisciplinar “e consegue contribuir de forma equilibrada para as três dimensões essenciais do desenvolvimento sustentável (triple bottom line): pessoas, planeta e lucro.”

Um dos mais relevantes contributos para a economia social da Casa Chapitô, acelerador também de formação e de competências profissionais dos alunos da Escola do Chapitô, são as “Produções Chapitô”.

Como sector específico vocacionado para a realização de eventos, as Produções Chapitô criam, produzem e apresentam animações para particulares, empresas, media, organizações e instituições, em Portugal e no estrangeiro.

Mais de quatro décadas de experiência profissional permitem-nos assegurar soluções artísticas personalizadas e originais com elevada qualidade. O Chapitô cria animações que ilustram, através das artes circenses, os objectivos, a filosofia e a estratégia das empresas que nos procuram. As nossas actividades e espectáculos complementam e enriquecem campanhas de marketing, comunicação e imagem, criando uma aproximação lúdica com os públicos-alvo. E contratar serviços às Produções Chapitô é também uma opção cívica de responsabilidade social – na perspectiva do “comércio justo”, as empresas que nos procuram sabem que estão a apoiar causas sociais e a fomentar a economia social.

O nosso contributo original para uma matriz de economia social sustentável (que não se confunde com qualquer lógica redutora e assistencialista com que comummente se quer identificar economia social) funda-se na quadrangulação dinâmica e complementar “Cultura – Educação – Inclusão Societal – Economia Social”. Estes quatro vectores, conjugados, assumem um modelo inovador que faz do Chapitô um “case study” a nível nacional e internacional.

O nosso ADN é o Circo! O Circo é também um círculo. Um círculo que esbate distâncias entre centros e periferias convocando para a alteridade do ser e do agir. Interacção não chega para caracterizar a intensidade e a natureza dos vínculos que vamos construindo com tanta gente, tanto mundo, tantas visões, tantos cruzamentos, tantas culturas.

Chapitô só é mesmo esta circularidade acolhedora de criar um espaço e um tempo onde todos podemos, com determinação, ser pessoas com mais qualidade.

Aqui, a arte é o pretexto, o texto e o contexto. E no Chapitô as artes circenses são a matriz com que cerzimos as zonas de fragilidade que nos constituem, procurando, pelo diálogo, pelo rigor nos processos, pelo design inclusivo dos percursos, pela pluralidade das abordagens, assumir cada jovem, cada cidadão, na sua plenitude de possibilidades.


Uma foto vale mil palavras! Por tudo isto, nada é mais oportuno que uma foto que fala da implicação social dos nossos percursos, da criatividade e ousadia com que formamos os nossos jovens. É uma foto do grupo “activistas”, apresentação no Carnaval 2020.

Por Teresa Ricou – Diretora do Chapitô Colectividade Cultural e Recreativa de Santa Catarina

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