A INCLUSÃO SOCIAL deveria ser promovida por cada um de nós

Autor: Leonor Pereira

A INCLUSÃO SOCIAL deveria ser promovida por cada um de nós

A INCLUSÃO SOCIAL ainda não foi exemplarmente conseguida porque, em 10 milhões de portugueses, menos de 1% se preocupa com isso, e aplica o no seu dia a dia.

Se cada um de nós de preocupasse e praticasse a INCLUSÃO SOCIAL no seu dia a dia, hoje todos teríamos as mesmas oportunidades, as mesmas acessibilidades, e os mesmos direitos.

O que é que existe na nossa sociedade para que a INCLUSÃO SOCIAL seja o nosso dia a dia? – Nada. O que existe é mínimo relativamente à necessidade que existe, realizada por uma ínfima parte da nossa sociedade, que pratica diariamente a INCLUSÃO SOCIAL de forma gratuita e a título de voluntariado.

Para que a sociedade portuguesa faça alguma coisa pela INCLUSÃO SOCIAL, é preciso que lhes paguem para isso, pensam eles!!! Quase ninguém se importa com a INCLUSÃO SOCIAL porque não dá lucros.

As pessoas com reais necessidades de transporte adaptado, são pessoas com algum tipo de deficiência, que de uma ou de outra maneira lhes restringe a capacidade motora, e vivem com mobilidade reduzida. Estas pessoas, dificilmente conseguem emprego, vivem de uma reforma baixíssima do Estado, e têm, normalmente e associado à sua condição, inúmeras despesas mensais e recorrentes com cuidadores, fisioterapeutas, estimulação cognitiva, medicamentos e consultas médicas, transporte, centro de dia, etc. Enquanto que cada um de nós tem a capacidade de ir de metro, ou de autocarro, as pessoas com deficiência não têm essa capacidade, por várias razões como sabemos, e o transporte que têm, são táxis adaptados, que, para além de escassos, são dispendiosos. Pergunto: alguns de nós iriam apanhar táxi todos os dias, de manhã e à noite para ir e vir do trabalho? – Seria suportável economicamente para o seu agregado familiar? – Seria ou não economicamente preferível que ficasse em casa sem trabalhar para poupar? – É que, se um de nós fosse e viesse todos os dias para o trabalho de táxi, o nosso ordenado não chegaria para pagar esse táxi, e mais valeria ficar quieto!!

Ora vejamos:

1. Se pensarmos, por exemplo, no Transporte Adaptado. Todo o transporte adaptado que existe no nosso país, é com fins lucrativos.

2. Se pensarmos, por exemplo, no Desporto Adaptado, é quase inexistente. O que existe são algumas associações, com o apoio de fundos de projectos da CE, que investem tempo e dinheiro no desporto adaptado, mas desde que seja o desporto adaptado federado e de alto rendimento. Ora, nem todas as pessoas querem praticar desporto a esse nível de exigência física e comprometimento!!! Por isso, o Desporto Adaptado a título lúdico ou recreativo é quase inexistente, porque que não tem apoios e porque não dá lucro. E infelizmente, o que não dá lucro, não cria empatia dos demais.

3. Se pensarmos, por exemplo, nas Viagens Adaptadas, também elas são, efetivamente, inexistentes. Mais uma vez, o que existe está pensado no âmbito lucrativo. Uma pessoa com deficiência, não tem uma viagem adaptada, previamente preparada para ela, a pessoa com deficiência tem de a procurar no mercado, assumir o risco de nada estar adaptado à sua condição e, assumir ainda o seu custo na totalidade como uma pessoa sem deficiência, com a agravante de que terá um preço sempre “vezes dois” contrariamente ao preço que cada um de nós paga. A pessoa com deficiência, além dos inúmeros inconvenientes e percalços que encontrará no decorrer da sua viagem, por falta dos vários tipos de acessibilidade (arquitetónicas e outras), ainda terá de pagar dois bilhetes de avião, ou dois bilhetes de autocarro, ou dois bilhetes de barco, um cuidador 24h/dia para o acompanhar na sua viagem, um quarto duplo, etc. Além de não haver descontos para o quarto adaptado na hotelaria, ainda é cobrado a dormida do cuidador, a pensão do cuidador, o bilhete de entrada do cuidador, etc.

E, é exatamente nesse sentido, no sentido contrário ao que me costumam dizer as entidades e organismos públicos, “…à, mas isso já existe.”, que, considero que, nas condições relatadas acima, de facto, estes 3 serviços essenciais à INCLUSÃO SOCIAL, não existem.

Desde 2006, há 15 anos, que detetei esta hipocrisia na nossa sociedade. Procurei muito transporte adaptado em 2006, 2007, 2008 e nessa altura, nem táxis adaptados existiam. Hoje existem, os municípios abriram concursos públicos para atribuírem licenças de táxis adaptados, mas sempre na vertente lucrativa. Nenhum táxi trabalha sem fim lucrativo.

Além disso, os municípios criaram um serviço gratuito de transporte adaptado ao munícipe com deficiência. Mas isso não é INCLUSÃO SOCIAL. Levar um doente com deficiência ao médico, é uma obrigação e dever do Estado. INCLUSÃO SOCIAL seria fazer esse mesmo serviço, de transporte adaptado, mas no sentido de terem atividades lúdicas, recreativas e de lazer, com a mesma frequência, diária, que qualquer um de nós tem, como por exemplo: ir às compras, ir ao cinema, ir a um seminário, ir beber um café com um amigo, ir à praia, ir a passeio, ir jantar fora, entre outras muitas coisas. Isto sim, seria INCLUSÃO SOCIAL.

Com base num estudo em anexo, um estudo social de opinião, levado a cabo pela associação ANITA IPSS, realizado em Abril/2021, a qual colocou online um questionário público para validar os seus objectivos para 2021, responderam 42 pessoas com deficiência. Considerando que, essas 42 pessoas que responderam representariam os 100% das pessoas com deficiência em Portugal, chegou-se às seguintes conclusões:

1. Que, 86% da população com deficiência deseja inscrever-se num clube de praia com todo o apoio e ajuda, gratuita, para poder ir à praia “livremente” como qualquer um de nós sem qualquer deficiência;

2. Que, 79% da população com deficiência, deseja estar no areal, com o seu chapéu de sol, com a sua lancheira, rodeado de toda a sua família, com os seus filhos a brincarem na areia, como qualquer um de nós sem qualquer deficiência faz em toda a época balnear, e para isso, contar com o apoio e ajuda gratuito de uma instituição;

3. Que, apenas 21% dessa população com deficiência tem cuidador, e que esse cuidador tem um custo que acresce ao orçamento familiar do seu agregado familiar, pelo que, fica também validada a questão de dever existir um serviço de apoio e ajuda gratuita para a permanência diária das pessoas com deficiência nas praias, pelo menos durante a época balnear, ainda mais com atividades lúdicas e desportivas, adaptadas à sua condição;

4. Que, 71% da população com deficiência, deseja ter um clube com várias atividades lúdicas e desportivas, adaptadas, todo o ano. Se considerarmos os que responderam como “sim”, isso quereria dizer que 95% das pessoas com deficiência desejariam ter um clube de desporto adaptado, com atividades regulares todo o ano, passando pelos desportos de verão e de inverno;

5. Que, 85% da população com deficiência, deseja que este clube e as atividades que desenvolve sejam, regulares, todas as semanas, sendo que 35% gostaria que fossem todos os dias, 26% gostariam que fossem várias vezes por semana, e 24% gostariam que fossem pelo menos uma vez por semana. Concluindo-se que, no mínimo, este serviço é fundamental existir, semanalmente, durante todo o ano.

6. Que, 83% da população com deficiência, deseja que o clube de desporto adaptado funcione maioritariamente durante todo o dia ou manhã;

7. Que, 81% da população com deficiência, não reside em lares, não é institucionalizada, pelo que, não tem acesso a qualquer atividade lúdica ou desportiva de modo gratuito e adaptado, verificando-se mais uma vez esta enorme necessidade, a de existir uma entidade que promova este tipo ativo de INCLUSÃO SOCIAL na população com deficiência;

8. Que, 93% da população com deficiência, desejaria, depois de qualquer atividade lúdica ou desportiva, adaptada, permanecer na praia a descontrair, a conviver, a divertir-se a apanhar banhos de sol e de mar, como qualquer pessoa sem qualquer deficiência faz regularmente na época balnear;

9. Que, 83% da população com deficiência, desejaria ter esplanadas de praia com acessibilidade, que os gostasse de receber e servir, tratando esta população com normalidade e dignidade, tendo os seus estabelecimentos pensados e adaptados para pessoas com deficiência, a começar pela largura das pernas das mesas, bem como na altura das mesas, instalações sanitárias adaptadas, rampas de acesso ao interior do estabelecimento, entre outras coisas.

Para terminar, com este estudo, identificou-se que 55% das pessoas com deficiência que responderam ao estudo em anexo, são trabalhadores ativos, que descontam todos os meses para a segurança social e pagam os seus impostos, os quais se encontram completamente esquecidos por todos nós… PORQUE NÃO DÃO LUCRO.

Para mim, o lucro está na conquista diária de mais um sorriso de uma pessoa com deficiência, o lucro está na felicidade que me dá ver que consegui ajudar, mudar alguma coisa para melhor na vida dessas pessoas com deficiência. Para mim o lucro não é de âmbito financeiro, para mim o lucro é algo que não é material, o lucro está no sentimento gratificante que tenho ao ver no rosto dessas pessoas com deficiência, o quanto transbordam de amor e felicidade quando alguém lhes dá a mão, quando alguém lhes dá apoio, atenção, carinho, e principalmente, quando sentem que encontraram aqui um amigo para a vida.

Por Leonor Pereira, Presidente de Direção da ANITA - Associação Nacional de Intervenção no Transporte e Autonomia

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