Sofrer um dano cerebral grave e viver a pandemia – realidades com pontos comuns

Autor: Vera Bonvalot

Sofrer um dano cerebral grave e viver a pandemia – realidades com pontos comuns

Quando uma pessoa sofre um dano cerebral grave, tudo muda na sua vida e na vida da sua família. A pessoa, agora em coma, vê a sua vida suspensa durante dias, semanas ou meses. As suas relações, interações, compromissos e toda aquela que era a sua rotina diária é interrompida, seguindo-se longos anos de recuperação, reabilitação e de construção de um novo “eu”. É o recomeçar de uma nova vida e a adaptação a uma nova realidade cheia de incertezas e obstáculos: um mundo que nem sempre está preparado para acolher e responder às pessoas com limitações físicas e cognitivas graves. A falta de respostas e apoios resultam em consequências penosas na vida destas pessoas, como é o caso do isolamento social e na frustração sentida quando confrontados com um mundo tão pequeno e limitado, um mundo desconhecido e do qual sentem que não pertencem.

Sabe-se que 93% das relações sociais são perdidas e as pessoas com dano cerebral passam a conviver apenas com a sua família e com a equipa médica e de reabilitação. O sentimento de perda dificulta o processo de aceitação à nova realidade que poderá durar anos. Aceitar o novo “eu” e as novas circunstâncias de vida, é essencial à construção da felicidade da pessoa e da sua valorização pessoal.

93% das relações sociais são perdidas

A novamente e, concretamente, o seu projeto de apoio continuado, é uma resposta personalizada, adaptada a cada caso, e que abrange todas as áreas da vida da pessoa, facilitando o seu processo de recuperação, reabilitação e reintegração e priorizando a sua qualidade de vida, o seu equilíbrio global e a sua felicidade. É um processo que demora anos a atingir mas, com o investimento de todos os envolvidos, é possível e com resultados positivos.

Pontos comuns com a pandemia 2020 e 2021:

Embora a alteração na vida de todos não seja tão brutal e definitiva, há muitos pontos comuns entre a pandemia e o que estas famílias com dano cerebral, sofrem. A COVID-19 também causou uma abrupta interrupção na vida de todos e alterou significativamente a forma como vivemos. Também nos obriga a isolamento social. Também vamos agindo com insegurança, com receio do desconhecido e passámos a viver na incerteza do futuro.

há muitos pontos comuns entre a pandemia e o que estas famílias com dano cerebral sofrem

Assim é a vida das milhares de famílias que vivem e convivem com o dano cerebral. Estima-se que existam mais de 220.000 casos em Portugal a viver esta dura realidade. Segundo a OMS, o dano cerebral é uma epidemia silenciosa e a maior causa de morte e deficiência em jovens adultos. Esta epidemia silenciosa, que tão bem define a problemática do dano cerebral, passou a estar mais silenciosa pelos tempos que estamos a viver. Também os problemas inerentes ao dano cerebral se acentuaram.

mais de 220.000 casos em Portugal a viver esta dura realidade

As famílias que lidam com o dano cerebral adquirido têm revelado uma força e uma vontade incalculáveis para vencer os sistemáticos obstáculos com os quais são confrontadas. São forçadas a saber viver esta nova realidade que lhes foi imposta e a rever os valores que constituem a base da sua vida: já não se trata de dinheiro ou carreira mas passa a ser a saúde, a coragem e o amor incondicional pelos mais próximos o principal motor das suas vidas e a razão da sua existência.

já não se trata de dinheiro ou carreira, passa a ser a saúde, a coragem e o amor incondicional pelos mais próximos

Poderá ser esta a chave para evitar, a quem esteja limitado à sua casa devido à pandemia COVID-19, que se sinta tão depressivo e sem esperança. Aceitar a nova realidade, valorizar a sua saúde, amar quem vive connosco e a família com quem não coabitamos, viver um dia de cada vez e pensar no verdadeiro valor e sentido da nossa vida: é mais importante uma saída com amigos ou gozar da presença e saúde dos nossos familiares e ajudá-los a ter alegria e coragem? Vivemos tempos de reflexão e uma oportunidade de mudarmos a nossa visão em relação ao mundo.

Por Vera Bonvalot, Diretora Executiva da novamente

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