Percursos de Inclusão

Autor: Ana Baptista

Percursos de Inclusão

Este meu testemunho centra-se nas dinâmicas formação/emprego direcionadas para as pessoas com deficiência, e é fruto de uma experiência de trabalho em equipa.

Fazendo uma retrospetiva destes últimos 15 anos de intervenção na área da formação profissional, posso afirmar que, as modalidades de formação se foram gradualmente adaptando, de forma a dar uma resposta mais adequada ao perfil de entrada dos formandos.

Durante vários anos os candidatos à formação eram sobretudo adultos com baixos níveis de escolaridade, a maioria sem o 9ºano. Com poucas experiências de vida e hábitos de interação social praticamente centrados na família e nas equipas de reabilitação. Com poucos hábitos de socialização, de autonomia e autodeterminação, como se a capacidade de sonhar ou de ter expetativas em relação a um futuro, lhes estivesse completamente vedada.

A formação era sobretudo encarada como uma ocupação! Assim, durante alguns anos, os cursos eram de longa duração, três anos em sala e um ano de prática em contexto de trabalho.

A formação era sobretudo encarada como uma ocupação

A partir de 2008, e um pouco a reboque das políticas preconizadas para a educação de adultos, os cursos passaram a ser de dupla certificação – escolar e profissional, permitindo aumentar os níveis de qualificação.

Anos mais tarde, mercê das políticas de educação inclusiva, com todas as suas vicissitudes, os candidatos à formação passaram a ter na sua maioria o 12º ano de escolaridade, com currículo específico ou adaptações curriculares. Estes jovens vindos diretamente da escola, os quais na sua maioria já eram acompanhados pelas equipas dos Centros de Recursos para a Inclusão, já com um percurso identificado e um encaminhamento mais específico para as nossas ofertas formativas, requerem uma intervenção diferente. Por um lado, refletem algum cansaço em relação ao contexto de sala de aula, por outro, têm mais ambição, mais noção de que podem ter uma profissão e ser cidadãos ativos.

Assim, optámos por repensar a oferta formativa, e contrariamente àquilo que parecia ser o correto, abandonámos a dupla certificação. Neste momento ministramos cursos com duração de cerca de dois anos. Decorrem essencialmente em contexto de trabalho, e têm uma componente de formação em sala nas áreas de TIC, legislação laboral, procura ativa de emprego e cidadania, áreas transversais e com conteúdos pertinentes para o mundo do trabalho.

Os formandos são integrados em entidades empregadoras, de acordo com os seus perfis de competências, os seus interesses e as suas aptidões. O seu acompanhamento é efetuado por um orientador, designado pela entidade, em articulação com a equipa da formação, permitindo acompanhar a sua evolução e a definição de estratégias para superar dificuldades. Esta experiência tem sido bastante gratificante, pois tem permitido criar relações de proximidade entre o formando e a entidade, de forma a potenciar a sua empregabilidade.

relações de proximidade entre o formando e a entidade, de forma a potenciar a sua empregabilidade

A par da valência da formação, somos também centro de recursos para o emprego, credenciados pelo IEFP e congregamos esforços para a integração das pessoas com deficiência, no mercado de trabalho. Reunimos conjuntamente com as empresas, divulgamos as medidas de apoio e incentivos à contratação, atribuímos produtos de apoio para viabilizar o acesso à formação e ao emprego. E digo, com orgulho, que nestes três últimos anos conseguimos viabilizar mais de 60 contratos de trabalho. É certo que estes resultados são fruto da proximidade às entidades empregadoras, de uma crescente responsabilidade social e sobretudo de um conjunto de apoios financeiros que criaram estas oportunidades.

nestes três últimos anos conseguimos viabilizar mais de 60 contratos de trabalho

Estes resultados fazem a diferença e traçam um caminho que se pretende menos sinuoso e mais inclusivo.

Mas, inclusão o que é isso? As palavras podem ser só isso mesmo, e depois de muito repetidas parece que perdem o sentido, tornam-se vãs!

Mais do que as palavras, devem ser os atos. A inclusão somos nós no nosso dia a dia, na nossa prática, uns com os outros.

A inclusão somos nós no nosso dia a dia, na nossa prática, uns com os outros.

A inclusão também se constrói com as atitudes das pessoas com deficiência, quando não se colocam à parte, quando se querem valorizar e fazer ouvir, quando querem participar e ser membros ativos na sua comunidade.

Por Ana Baptista, Presidente do Centro de Paralisia Cerebral de Beja

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