Um caso de estudo?...

Autor: Pe. Manuel Joaquim Carvalho Fernandes

Um caso de estudo?...

O Centro Social Paroquial de Ribeirão viveu momentos muito difíceis no início do mês de Agosto.

O Corona vírus apareceu na comunidade próxima da Instituição e provocou muito alarido. Havia receio de que houvesse colaboradores e utentes infectados.

O presidente da Instituição estava internado no Hospital, infectado com COVID 19, contraído durante uma Formação destinada a sacerdotes. Felizmente não infectou ninguém da Instituição.

Portanto, o Presidente não pôde tomar nenhuma decisão na situação que começamos a descrever.

Os outros elementos da Direcção, juntamente com a Diretora Geral e os Directores Técnicos do Lar Santa Ana para Idosos e Lar Residencial Santa Maria, para pessoas com deficiência, assumiram o comando do “barco”. Esta equipa também contou com os Diretores de outras valências da Instituição.

Para impedir que o “fogo” tomasse conta dos utentes dos dois Lares, a Direcção decidiu arcar com as despesas de fazer teste ao COVID aos colaboradores que nesse momento estavam a trabalhar. Isso significou uma despesa que ultrapassou os dez mil euros.

Mas desse modo conseguimos antecipar o conhecimento de casos portadores da doença e agir preventivamente evitando que a infecção alastrasse aos utentes conforme se veio a confirmar.

As Autoridades Sanitárias, de Protecção Civil, Segurança Social, Câmara Municipal convocaram diversas reuniões para assim acompanhar a Instituição e dar orientações.

As Autoridades prognosticavam infecção em muitos utentes. Por isso, quando começaram a aparecer os resultados dos testes aos utentes e eram todos “negativo” fomos todos surpreendidos. As Autoridades confortaram-nos elogiando o nosso trabalho!

Porque terá acontecido esta situação?

Havendo alguns colaboradores infectados e não tendo passado a infecção para os utentes, à primeira vista, poderá significar que estavam a ser bem cuidadas e cumpridas todas as medidas de protecção. E foi isto que as autoridades concluíram.

É evidente que tudo isto não significa que estamos imunes de voltar a ter problemas.

Estamos no mesmo barco e podemos ser apanhados pela tempestade.

No entanto, fica claro que é muito importante observar todas as regras de protecção individual e colectiva.

Protecção do Alto

Somos uma Instituição ligada à Igreja Católica. Não estamos “sozinhos” neste trabalho de Solidariedade Social. Mais de um responsável referiu que o êxito no momento difícil por que passamos também se ficou a dever à protecção divina, implorada por quem estava em sofrimento e não podia fazer mais nada, senão rezar...

Desejamos ser estímulo para alguém

Relatamos esta história verídica para animar outras Instituições a tentar apagar o “fogo” do vírus antes que ele tome proporções alarmantes. É verdade que isso pode significar um custo economicamente elevado. No entanto, “vão-se os anéis e fiquem os dedos”! As normas de segurança podem parecer exageradas mas se as observarmos e tivermos um “bocadinho de Sorte” colheremos bom fruto.

A importância de delegar

Na situação que descrevi revelou-nos quão importante é delegar “poderes”!

O Presidente da Instituição estava em confinamento e, de seguida, teve de ser internado. Todos os elementos da Direcção, orientados pelo Vice-Presidente e com a colaboração da Directora Geral e dos Directores Técnicos, mesmo os das Respostas Sociais que estavam encerradas, assumiram o leme do barco. Inclusivamente, tiveram de desmarcar férias que estavam programadas.

É verdade que isto não é suficiente. Foi necessária a colaboração das Entidades acima referidas e a dedicação de todos os colaboradores que tiveram de trabalhar durante sete dias sem sair das instalações dos respectivos Lares, duas semanas, em dois grupos.

Parece-nos que é importante envolver no processo todos os que vestem a camisola da Instituição. Mas é preciso mesmo “vestir a camisola”! Considerar que é a nossa casa que está em jogo e não olhar a sacrifícios para a defender.

Somos frágeis e precisamos uns dos outros

O Corona vírus demonstra-nos quão frágeis somos. O ser humano tem conseguido tantas vitórias extraordinárias no campo científico e noutros sectores. No entanto, diante deste vírus invisível fica impotente e ainda não conseguiu dominá-lo. As infecções são aos milhares, diariamente, e não somos capazes de encontrar o anti-vírus capaz de neutralizar este novo.

Além disso, o Corona vírus também nos ensina que não devemos “brincar com o fogo”!

Fazem-se todas as experiências tecnicamente possíveis e descuidam-se as consequências que podem advir.

Terá sido isto que aconteceu?

Somos frágeis e, às vezes, loucos... que não medem as consequências dos seus actos! Somos frágeis e precisamos uns dos outros. Quem já passou por uma experiência de COVID sabe bem como isto é verdade!

Precisamos uns dos outros. De momento, ficamos completamente incapazes de coisa alguma. Precisamos dos médicos, enfermeiros, técnicos hospitalares, auxiliares, empregados de serviços gerais, alguém que nos chegue um copo de água ou o urinol... Foram bem expressivas as imagens que, durante os primeiros tempos de pandemia, as televisões nos apresentaram! Precisamos uns dos outros. E há uma necessidade que muitos não querem admitir: necessidade de Deus. Sem Ele a vida fica sem horizonte e as dificuldades agigantam-se na nossa frente!

Estas palavras não têm sentido apologético. Pretendem apenas, chamar a atenção para questões muitas vezes esquecidas. Se o tivermos conseguido damos por bem empregue o pequeno esforço em contar a nossa história mais recente.

“Levantar-se e semear esperança”

Agora, pensando como viver os tempos que se avizinham, parece-me muito oportuna a reflexão do Senhor Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, numa Carta Pastoral “Escutar a terra, olhar o céu”, recentemente publicada.

Na parte final diz-nos: ”É tempo de nos libertarmos do medo que paralisa. Em Cristo somos mais fortes. Sem vergonha choramos os que morreram e lamentamos os que cederam à pressão do desânimo”.

“Não fiquemos à espera que nos peçam ajuda. Coloquemo-nos a caminho. É tempo de escutarmos a terra, lugar da encarnação do Filho de Deus, para compreendermos o céu, meta para onde nos dirigimos”.

O medo não pode estacionar-nos

“O futuro está a exigir muita confiança e serenidade. O medo não pode estacionar-nos. Continuemos a viver e demos espaço à esperança. Não aceitamos a derrota mas prosseguimos a caminhada e queremos aprender com este tempo. Será longo ou curto? Há coisas importantes que a pressa da vida não nos permitiu viver. Com mais tempo, “ouçamos” as vozes da consciência e os gritos dos irmãos e da terra”.

Reparemos no Companheiro invisível que se junta a nós

Fazendo referência ao episódio evangélico dos discípulos de Emaús, o Senhor Arcebispo Primaz aconselha a deixar-nos conduzir e guiar pelo companheiro inesperado e invisível. Não é só o vírus que é invisível...

E, depois de reconhecermos o Companheiro Invisível, “partiremos, correndo, para ir ao encontro dos outros, daqueles que, amedrontados, ainda se encontram fechados numa vida sem sentido. É a alegria de ser anunciadores de uma Boa Nova”.

Por Pe. Manuel Joaquim Carvalho Fernandes, presidente do Centro Social Paroquial do Ribeirão

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