Desafios das organizações sociais

Autor: Preciosa dos Santos

Desafios das organizações sociais

O enquadramento dum conjunto de organizações no setor da Economia Social, tem todo o sentido em termos de terminologia. Relativamente à vertente económica, representam um peso muito significativo no emprego que geram. Fora das grandes metrópoles, estas organizações pertencem ao grupo dos maiores empregadores, com a importância que daí decorre para a economia local e consequentes repercussões quer regionais quer nacionais. A criação e a promoção de emprego é, efetivamente, um atributo das organizações da economia social. Na vertente social, aquela que melhor nos caracteriza e identifica, mobilizamo-nos por pessoas enquanto pessoas, independentemente das suas especificidades. As organizações do terceiro setor são, portanto, protagonistas na criação de valor (económico e social) nos diferentes contextos onde atuam.

Fora das grandes metrópoles, estas organizações pertencem ao grupo dos maiores empregadores

A inovação social é também uma das características deste setor, na procura de serviços adequados às necessidades sociais que não têm resposta, procurando encontrar soluções inovadoras. Os desafios e a procura de soluções adequadas nestas organizações, foram gerando o empreendedorismo social do qual não se pode descurar a sustentabilidade como referencial permanente.

Na procura de respostas adequadas às tipologias e especificidades das pessoas apoiadas, as organizações da economia social foram criando infraestruturas, desenvolvendo projetos e, paralelamente, criando equipas multidisciplinares com competências técnicas relevantes. Embora assumindo dimensões e formas de organização diferenciadas, a maioria das organizações da economia social tem a sua génese num pequeno grupo de colaboradores e pessoas apoiadas. Depois, algumas delas evoluem para a centena de colaboradores e, concomitantemente, para um alargado leque de pessoas apoiadas e respetivas problemáticas.

Neste percurso, é essencial prosseguir com uma gestão equilibrada, conciliando a oferta de serviços de qualidade técnica com a sustentabilidade das organizações. Para este efeito, importa relevar o envolvimento comunitário, o trabalho em rede e as parcerias significativas com diferentes entidades e organizações, que constituem um importante aporte ao desenvolvimento das organizações da economia social.

uma gestão equilibrada, conciliando a oferta de serviços de qualidade técnica com a sustentabilidade

Perante tais desafios, na CERCIPOM sempre temos procurado integrar nas nossas práticas estes conceitos, recomendações e princípios. Boa prova disso é a Certificação de Qualidade, para além de outros certificados específicos e inerentes aos vários serviços de suporte. A Certificação de Qualidade permitiu, sobretudo, sistematizar e registar as relevantes intervenções e práticas quotidianas com cada uma das pessoas que apoiamos e que, regra geral, não estavam evidenciadas em suporte documental ou digital. Constitui um compromisso organizacional com a melhoria continua, também concretizado através de benchlearning e benchmarking com outras organizações. Para além dessa importante vertente de aprendizagem e melhoria continua, a adesão à Qualidade permite ainda o reconhecimento e projeção das organizações.

A certificação de qualidade … constitui um compromisso organizacional com a melhoria continua

Os recursos humanos são um importante pilar da economia social, pelo seu imprescindível papel na construção diária das organizações. Parece-nos também importante referir que o reconhecimento salarial fica aquém do merecido e praticado por profissionais similares noutros contextos (público ou privado), por isso, torna-se imperioso adotar soluções alternativas de motivação e reconhecimento.

A este nível, a organização que represento tem desenvolvido algumas iniciativas, que consideramos de boas práticas replicáveis. Entre elas, por exemplo, a CERCIPOM tem investido no “Dia do Colaborador”, uma efeméride anual repetida há uma dezena de anos que, fundamentalmente, constitui um reconhecimento/gratidão a todos os profissionais, estagiários e voluntários. Simultaneamente, pretendemos fomentar o desenvolvimento pessoal, a interação, a comunicação e o fortalecimento das relações interpessoais. Com esta atividade de impacto direto nos colaboradores, pretendemos também proporcionar qualidade de vida às pessoas que atendemos, pois se o colaborador não estiver bem, isso reflete-se e é sentido pelas pessoas apoiadas (apesar de nem sempre terem capacidade de verbalização).

Outra atividade inovadora é o “Dia Aberto”, em que os objetivos principais são: (1) Promover a união e a integração na instituição, a proximidade entre todos os/as colaboradores/as, a experiência da cultura organizacional; (2) Completar o conhecimento que todos os/as colaboradores/as têm da instituição, de forma a que sejam embaixadores/as no exterior; (3) Aumentar a valorização e a compreensão do trabalho de todos/as, melhorando assim a colaboração; (4) Promover a partilha de recursos e a colaboração. O “Dia Aberto” acontece uma vez por mês, onde um grupo de cerca de 7 colaboradores/as (técnicos dos diferentes departamentos, incluindo administrativos, auxiliares de serviços gerais, motoristas,…) vai conhecer todas as respostas/espaços/departamentos/salas de trabalho da instituição, podendo assim perceber melhor a organização como um todo, visualizar, interagir e fazer perguntas aos colegas de trabalho. Para além dos impactos diretos nos Colaboradores, esta iniciativa também tem impactos indiretos nas pessoas apoiadas, pois os colaboradores/as mais motivados/as providenciam melhores serviços.

Temos também um Sistema de Avaliação de Desempenho, que resulta da avaliação das competências individuais em conjugação com a avaliação dos objetivos anuais da organização (receitas, taxas de ocupação, etc.). O prémio é calculado através da conversão do resultado da avaliação de desempenho em horas a gozar por cada colaborador. Um sistema que premeia todos e cada um dos colaboradores.

Como nota final, importa referir que o nosso objetivo último é proporcionar qualidade de vida e dignidade às pessoas que apoiamos diariamente, promovendo a sua inclusão. Elas são a única razão de existência das organizações, sendo por eles que nos mobilizamos.

Por Preciosa dos Santos, Diretora Geral da CERCIPOM

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