Para que serve a missão de uma organização?

Autor: Paulo Gonçalves

Para que serve a missão de uma organização?

Para que serve a missão de uma organização?

Dizem os especialistas que a declaração de missão é a expressão simples do propósito da organização. Sumariamente, e se estiver completa, explica o que a organização faz, porque o faz, com que objetivos e que valores tem subjacentes. Por vezes, na rotina do dia-a-dia, com as mudanças de vento, diferenças de temperatura, ou outras razões, por vezes são tomadas decisões ou ações que se sobrepõem aos princípios essenciais. Um retorno rápido à leitura atenta da missão ajuda a fazer regressar a atitude ao caminho do seu propósito.

Há organizações que utilizam propósitos finitos ou infinitos. Propósitos finitos são aqueles que seguem regras estanques, padrões definidos e objetivos temporais. Propósitos infinitos são aqueles em que as regras mudam porque as circunstâncias mudam. Dificilmente se podem seguir padrões ao longo do tempo porque as regras e as circunstâncias mudam. E os objetivos são, alguns, temporalmente definidos e outros não. Os participantes nos eventos infinitos também podem mudar ou são desconhecidos. Por exemplo, basta aparecer uma nova entidade que muda as regras e as circunstâncias.

Dificilmente se podem seguir padrões ao longo do tempo porque as regras e as circunstâncias mudam.

Imaginem um jogo de xadrez ou um governo. Num jogo de xadrez a missão é definida: derrubar o rei adversário. Num governo, a missão é mais ou menos definida porque há um mandato finito e um programa a cumprir. No xadrez, há quem jogue para atacar o adversário e conquistar, há quem jogue para defender o seu rei. Num governo, mesmo havendo um período de médio-longo prazo, há muitos imponderáveis. Então o jogo, mais do que trabalhar para atingir um resultado num período curto, passa a um jogo de manter-se no jogo indefinidamente ou o mais possível. É o que acontece com as organizações que funcionam sem prazo limite, estão cá por décadas.

Porque é que isto interessa?

Em Portugal, existe ranking da melhor empresa para se trabalhar. Mas não existe ranking da melhor IPSS para se trabalhar (pelo que sei e à data em que escrevo estas linhas).

Será que deveria? Será que haveria maior escrutínio entre as melhores IPSS para se trabalhar? Será que seria saudável haver um ranking? Será que deveria haver um conjunto de “mínimos olímpicos”, objetivos, critérios de avaliação, avaliação sistemática, e atribuição ou retribuição? Será que deveria haver concorrência entre IPSS?

Sinceramente, não sei. O que sei é que se houvesse uma avaliação mais sistemática, corrigir-se-iam muitos erros que se tornaram parte do normal.

Gostaria que conseguíssemos criar um modelo onde mais do que sermos melhor que o nosso vizinho ou concorrente, tentássemos vencer a nós mesmos, melhorar intrinsecamente, concorrer connosco próprios, melhorar, fazer jus à missão. Isto, se a missão for genuinamente com propósito infinito.

se houvesse uma avaliação mais sistemática, corrigir-se-iam muitos erros que se tornaram parte do normal

Imaginem que era possível ter uma organização local, que faz um trabalho local, com impacto local reconhecidamente positivo e que fosse possível replicá-lo em congéneres, outras organizações locais sem o perigo de estarmos a copiar, ou que isso fosse considerado errado ou ilegal.

Na nossa educação formal, aprendemos desde muito cedo a não copiar pelo colega do lado. Mas depois chegamos a adultos e, até em formações pós-graduadas, ensinam-nos a copiar dos melhores e chamam-lhes “casos de estudo”.

E se cada uma das nossas organizações lutasse por fazer melhor cada dia, semana, mês e ano? Lutar por inovar dentro do que é a sua missão, não com objetivo de ter ou ser mais, mas de poder ser alvo de cópia. Ser um caso de estudo. Ou simplesmente parceira num consórcio de parceiros, em que se pode copiar!

Ser um caso de estudo. Ou simplesmente parceira num consórcio de parceiros, em que se pode copiar!

Imaginem que era possível que uma IPSS, com atuação local, assinava um protocolo de colaboração com outra distante. Se comprometiam mutuamente a partilhar conhecimento, boas-práticas, serviços, etc. Imaginem que a IPSS de nome “Faro” tem estabelecimento em Faro. Que a IPSS de nome “Terceira” tem estabelecimento na Ilha Terceira. Que promovem serviços idênticos. Porque não partilharem experiências e boas-práticas? Usando a tecnologia e humanização, que pudessem mostrar o que de melhor fazem. E que permitissem ser copiadas, dando todos os detalhes. Mais, se um utente da “Terceira”, viesse de férias a “Faro”, ou um utente de “Faro” fosse de férias à “Terceira”, e pudessem ter continuidade de tratamentos, continuidade de atendimento, como se estivessem no seu ambiente local, com as mesmas condições que os locais?

A SPEM e mais 4 IPSS estão a experimentar um modelo como este. Se funcionar, poderá ser copiado.

Imaginem um utente com EM, associado da SPEM, poder utilizar um serviço no Fundão, com condições semelhantes, onde a SPEM não tem uma Delegação. Ou um utente do Fundão, associado de uma organização parceira no protocolo, que por qualquer razão se encontre deslocado em Leiria ou em Faro ou no Funchal, etc. possa dar continuidade aos cuidados que necessita nas mesmas condições que os utentes regulares. Como se fosse aceder a um hospital público ou um balcão de uma loja do cidadão, fora do seu local de residência. Claro que para haver qualidade e melhoria, tem de haver avaliação. Cada um destes, deve ter a possibilidade de avaliar, com critérios definidos, objetivos simples e claros. Isto permitirá melhoria contínua e concorrência consigo próprio/a.

para haver qualidade e melhoria, tem de haver avaliação

Parece básico, não é? Mas existe? E como pode ser analisado? Contactem-nos. Nós partilhamos.

Assim, pretendemos aumentar o raio de ação da nossa atuação, chegando a mais famílias afetadas pela EM, sem aumentar custos, e melhorando a sua qualidade de vida, cumprindo a nossa missão.

Por Paulo Gonçalves, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM)

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