Manter o barco a navegar no meio da tempestade

Autor: Teresa Guimarães

Manter o barco a navegar no meio da tempestade

A situação pandémica que nos assolou repentinamente obrigou os dirigentes das IPSS a reinventarem-se, a mudarem as suas estratégias e a arranjarem formas de responder a todas as solicitações quase diárias (orientações, normas, legislação), sem comprometer o bem-estar das pessoas apoiadas. O confinamento é por si só muito duro, mas na causa a que me dedico, a deficiência intelectual, pode ser arrasador.

O encerramento forçado de algumas respostas levou-nos a uma preocupação acrescida com as famílias que, de repente, se veem com os seus filhos em casa, com um acompanhamento à distância, muitas vezes difícil de assegurar por não haver acesso aos meios adequados.

O confinamento é por si só muito duro, mas na causa a que me dedico, a deficiência intelectual, pode ser arrasador

A saúde daqueles que se mantiveram ao nosso cuidado (nos lares residenciais no nosso caso) levou a que todos os nossos esforços se canalizassem para estas pessoas, deixando em suspenso toda a atividade programada para o ano 2020.

Paralelamente, a sustentabilidade financeira da instituição começa a ser ainda mais posta em causa, quando são necessários reforços das equipas nos lares, equipamentos de proteção individual (muitos!) e reorganização dos equipamentos para receber todas as pessoas em segurança.

Todos estes desafios nos apanharam desprevenidos, mas exigem que estejamos à altura de os superar. As pessoas contam connosco e esperam de nós que as mantenhamos distantes de tudo o que vão vendo por esse mundo fora e que não querem ver entrar pela porta dentro. Temos de manter o barco a navegar no meio da tempestade e levá-lo a bom porto!

a sustentabilidade financeira da instituição começa a ser ainda mais posta em causa

Na ressaca destes últimos meses (e a pensar já nos próximos…) este tempo tem-me levado a pensar, solidariamente com todos os dirigentes das IPSS, que por muito que nos preparemos para a missão que nos foi confiada, por muito que estudemos, que nos tentemos capacitar para o projeto que abraçamos, há sempre surpresas que nos apanham desprevenidos e que temos de saber resolver a qualquer custo. E temos muitos olhos postos em nós…

E que grande desafio de liderança!

Mas o que importa são as pessoas! Somos organizações de pessoas para pessoas, pessoas a cuidar de pessoas, pessoas a pensar para o bem de outras pessoas, pessoas a dar-se a outras pessoas, tudo em prol de um bem maior... somos casas de afeto que de repente viram roubada a sua mais pura e genuína forma de expressão.

Todos estes desafios nos apanharam desprevenidos, mas exigem que estejamos à altura de os superar

Por aqui levantou-se uma corrente solidária entre colaboradores, de colaboradores para famílias e de colaboradores para as pessoas apoiadas, cuja força tornou mais leves os momentos mais difíceis. Foi muito bom ver colaboradores a cozinhar para os colegas, a cantar à janela de quem está confinado em serviço, a enviar mensagens encorajadoras pelo Whatsapp a quem estava de quarentena, a preparar miminhos para “os nossos meninos” para tornar os seus dias menos cinzentos… Enfim, todo um corolário de acontecimentos que nos enchem a alma e fazem sentir que vale a pena estarmos aqui.

Por Teresa Guimarães, Presidente da Direção na APPACDM do Porto

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